As suas peças suscitam grande interesse pelo seu engenho em saber ler o momento para a arte, torná-lo esteticamente legível; é assim que se distingue, pela sua capacidade de criar o detalhe num ponto imprevisível e único da sua fruição artística. Essa arte colecta objectos mortos e reconstrói-os como um corpus, oferecendo-lhes novamente vida, utilidade e forma válidas na nossa cadeia limitadora do logos.
Daniela usa utensílios como restos de metais de telemóvel, chapas, borrachas e plásticos de aparelhos que fazem parte do dia-a-dia mas que em nenhum momento nos permitem suspeitar serem objectos de criação artística, tal como nos é normal julgar a madeira e os tecidos.
A sua notória perspicácia fica à vista na maneira como compõe e se dispõe a dar finalidades aos órgãos do embondeiro, ao olho da palanca, à janela da Fortaleza e à boca e olhos da zungueira. No olhar de Sónia Ribeiro, a curadora, “Daniela Ribeiro propõe-nos uma viagem sentimental. Ao mesmo tempo que propõe uma reflexão, oferece-nos um caminho, na sua generosidade e através da sua estética pessoal e inovadora, em versão minimalista dos símbolos, para activar a consciência do espectador, da sua própria identidade face à obra de arte. O espectador pode ver reflectido nesta viagem sensorial a sua memória histórica. Há uma dimensão social e mesmo política, mas há também outra poética e sentimental, onde a artista expressa o seu próprio amor por Angola, pelos seus valores, tradições e crenças em geral”.
Daniela Ribeiro é uma artista plástica angolana que viveu em Angola os primeiros 20 anos da sua vida e outros vinte anos na Europa: Portugal, França, Inglaterra, Espanha. Depois de várias presenças na cena artísticas destes países, em 2009 expõe em Angola a obra “Unicidade do Tempo”. Volta agora a expor a convite da Academia BAI.
A exposição A Nossa Cultura, patente de 10 de Julho a 30 de Setembro, no Memorial Dr. António Agostinho Neto, é composta de peças feitas de tecidos e componentes electrónicos sobre madeira, que representam, contextualmente, a palanca negra gigante, a extensão territorial de Angola por via do seu mapa, a Fortaleza de São Miguel, zungueira, embondeiro, marimba, pensador, welwitchia mirabilis, rosa de porcelana e a bandeira da República, símbolos inteligíveis da memória colectiva da nossa cultura

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