“Angolana” e “O Segredo da Beleza Africana” são dois quadros perfeitos para o levantamento da dualidade deste autor tradicional-moderno. Em “Angolana”, a pose requintada, a intenção de sensualidade, os olhos cobertos por um adorno mais de vaidade e excentricidade do que de conforto e pureza, e a confluência de tendências da representação da mulher. Já o segundo, “O Segredo da Beleza Africana” sugere o padrão de beleza africana, a postura, os colares, a expressão, a aura que dela imana, a definição da composição antropológica da fisionomia da face: nariz, testa, lábios e bochechas.
O rito da mulher africana é bem conseguido em “A Cumplicidade”, “O Laço”, “O Remorso” e “A Genuína”. Aliás, é com a obra “A Genuína” que esta colecção se explica como vislumbre do passado e do presente. Esta peça é a imagem de uma mulher aparentemente desafectada e sem a preocupação estético-existencial das mulheres da contemporaneidade. O olhar fixo e profundo, o tom grave e a aura carregada, os adornos postos com disciplina e austeridade e sem qualquer possibilidade de fomentar preconceitos, ou talvez sem margem para a ideia de uma vida de competição e de alternativas infinitas. Nota-se também que a mesma não provoca qualquer reacção lasciva, levantando a necessidade da real e contextual interpretação da lascividade feminina e sua desagregação (a cultura da utlização do corpo).
Na sua autocrítica, Guizef acha que estas duas dezenas de quadros seguem a sua visão particular de que a arte africana torna-se mais colorida e interessante quando focada na importância do papel feminino nas sociedades africanas.
Intitulada Feed Back, interpõe nas cores um pedido ao observador atento: explorar a riqueza cultural africana ainda bruta para uma mais expressa impressão digital na generalista globalização. A exposição está aberta de 27 de Junho a 13 de Julho, na galeria Celamar.
Augusto Guilherme Zeferino “Guizef” nasceu no Ambriz, Bengo, a 12 de Junho de 1969. Frequentou o ensino médio em Pedagogia. A arte foi se assumindo como parte destacada da sua vida, direccionando-a para área da publicidade e do designer, ofício que presta até hoje a várias empresas angolanas. Entretanto, o trabalho como designer foi conciliado com a sua condição de artista, que possibilitou que arranjasse uma instituição mediadora para a venda das suas obras a hotéis, restaurantes e figuras singulares. Plausível promessa, esta exposição no Celamar é a sua primeira aparição como artista no circuito luandense das artes plásticas.
A pintura de Guizef é um sonho acordado sobre as variadas poses e posições da entidade feminina. Traços da face. Sem buscar réstias dos protótipos vigentes dos moldes da beleza eurocêntrica.

Comentários