O primeiro livro infantil publicado por um autor de S. Tomé e Príncipe surge-nos assim com o sugestivo título de Grão de Café (uma antologia de contos) e foi apresentado a 27 de Dezembro último no Centro Intercultura Cidade, em Lisboa.
A autora, também professora de Língua e Cultura Portuguesa na Suíça, tem mantido ao longo dos anos uma forte ligação à pátria, e promove-a por este mundo fora através de acções e eventos marcadamente culturais.
Enche-nos assim de alegria o recém-nascido Grão de Café e acolhemos com entusiasmo esta obra pioneira, esperando que ajude a colorir e a conferir cheiro aos sonhos férteis e à insaciável curiosidade de todos os pequenos leitores da lusofonia, essa «ave migratória», na visão poética de Olinda.
São Tomé e Príncipe já desvendou um pouco de si ao mundo por intermédio de obras maiores de cariz diversificado, através da pena dos seus mais emblemáticos autores no género poesia, ensaio, novela; muitos contribuíram para expandir e consolidar a sua literatura, antes e após a proclamação do estado soberano estou a pensar, naturalmente, no poeta Caetano da Costa Alegre, José Tenreiro, geógrafo de profissão e também poeta, Tomás Medeiros, médico e escritor, e Alda do Espírito Santo, sobejamente reconhecida no campo das Letras como escritora e poeta.
Sem desprimor para as gerações mais jovens, para cada uma dessas vocações que despontam no instante mesmo em que vos escrevo e são literalmente sugadas, quantas vezes de forma inesperada, para o mundo viciante da literatura. Escrever para crianças é certamente um inalienável compromisso, uma vez que visa não apenas o entretenimento de qualidade, mas também a edificação da personalidade dos mais novos, a criação de hábitos de leitura estimulando o prazer de ler; para além destes requisitos, cumpre invariavelmente uma função didática, relacionando a criança com o resto do mundo, através de uma linguagem ao alcance da sua compreensão e do seu vocabulário.
O livro infantil em Angola pós-Independência tem beneficiado do talento e da persistência de muitos dos nossos melhores autores: de Rui Monteiro a Ondjaki, passando por Pepetela, Dário de Melo, Octaviano Correia. Lembremos igualmente as contribuições valiosíssimas no feminino, das quais recordo apenas algumas: Maria Eugénia Neto, Gabriela Antunes, Rosalina Pombal, Maria Celestina Fernandes, Cremilde Lima, mantendo estas duas últimas autoras uma produção regular e assídua nos últimos tempos.
Periodicamente surgem novos talentos com propostas válidas para a literatura infanto-juvenil, porém, a volatilidade do mercado literário, a insuficiente valorização e o elevado custo de impressão e distribuição, são apontadas como algumas das razões que os levam a privilegiar outras carreiras, normalmente no ensino, onde mantêm um contacto próximo com o universo da criança e que supõem um mínimo de estabilidade.
Poucos são os que vivem da literatura, mas muitos serão os que se dedicam a ela por inteiro, sem reservas, vivendo para a literatura, cedendo a essa paixão pela Criança e à vocação indómita para comunicar.
Pessoalmente fascinam-me as obras híbridas que podem ser apreciadas igualmente por adultos e proporcionar leituras a vários níveis; nessa categoria incluiria As Aventuras de Ngunga, (que marcou definitivamente a minha infância), de Pepetela, o conto A fronteira do asfalto, de Luandino Vieira, tão belo quanto arrepiante, quase todos os clássicos de Andersen, Grimm e La Fontaine e, claramente, O Principezinho, de Saint-Exupéry, que quanto a mim se destina a crianças com mais de 20 anos .
São obras que tecem o convívio entre pais, filhos e netos, alunos e professores, que aproximam gerações e promovem a cumplicidade familiar em torno desse objecto insubstituível que é o livro, desse amigo que não nos larga nunca.
Obrigada, Olinda Beja, e a todos os que encaram a responsabilidade de escrever para crianças com um sorriso na alma.
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