Cultura

Preservação da herança cultural debatida no Encontro Provincial

Katiana Silva

Jornalista

O presidente da Associação Provincial do Carnaval de Luanda (APROCAL), Víctor Nataniel Narciso “Tany Narciso”, garantiu, em entrevista ao Jornal CULTURA, título da Edições Novembro, que a revitalização da riqueza cultural do Entrudo é uma das grandes metas da sua direcção, sendo um dos temas que vai dominar os debates do Encontro Provincial do Carnaval de Luanda, agendado para Março.

19/02/2024  Última atualização 09H15
Tany Narciso define como prioritário todo um trabalho de resgate que deve ser levado em conta na concretização do Carnaval ao vivo © Fotografia por: DR

Para Tany Narciso, a revitalização da riqueza cultural é um dos caminhos para tornar os desfiles do Carnal de Luanda ao vivo, uma vontade que tem sido reiterada pela direcção dos grupos. O presidente da APROCAL apontou como experiência o bloco de animação que abriu a emissão, em 2022, da Live do Carnaval, como um sinal de que é possível tornar os desfiles ao vivo.

"Deixa-me dizer que isso não depende só da boa vontade da APROCAL. Há alguns aspectos ligados ao que se passa com os grupos carnavalesco e a produção do Carnaval que nós pretendemos aprofundar mais, e vamos abordá-los no Encontro Provincial do Carnaval de Luanda, programado para Março. Temos questões intrínsecas ao funcionamento dos grupos que afectam a passagem para o Carnaval ao vivo”, disse.

Tany Narciso detalhou que uma das preocupações são os executantes, que se escasseiam naquilo que é domínio dos aspectos de identidade do próprio Carnaval de Luanda, quer na fala, instrumentos, coreografia e dança. Lamentou que actualmente os grupos enfrentam alguma dificuldade em encontrar bons e verdadeiros executantes.

"Se eu quiser tocar kabetula, hoje já não encontramos muitos percussionistas que saibam de facto tocar, na sua originalidade, este género de dança no Carnaval. Já são poucos. São os mesmos que trabalham em todos os grupos. Estamos preocupados com esta situação e nós vamos intensificar a actividade de formação através das oficinas de Carnaval. Tivemos no ano antepassado uma oficina de kazukuta, mas este ano pensamos fazer em todos os estilos e categorias. Porque começam a faltar bons tamboristas, bons cornetistas, banheiristas. Não digo apenas bons, mas verdadeiros e genuínos”, garantiu.

Tany Narciso define como prioritário todo um trabalho de resgate que deve ser levado em conta na concretização do Carnaval ao vivo, uma das grandes metas da sua liderança. O presidente da APROCAL acredita que seria muito interessante se conseguissem realizar o que estava previsto para a abertura do desfile deste ano, neste caso a apresentação ao vivo de um bloco de animação de mais de 200 pessoas, que não veio a ser concretizada por questões de ordem financeira.

"Tenho a certeza de que em 2025, em saudação aos 50 anos da nossa Independência, vamos apresentar. As pessoas vão entender. É muito interessante. Vai estimular as pessoas para o fabrico de instrumentos e pesquisas que nos podem conduzir à fase do Carnaval ao vivo”, prometeu.

Para além da formação técnica, Tany Narciso reconhece que será preciso ter em conta os desafios tecnológicos, levantando aspectos como a captação sonora, que não tem sido muito fácil, apontando como exemplo o Brasil, que teve de adaptar uma tecnologia própria para permitir o sucesso do Carnaval ao vivo. 

"Ao longo de todo este processo de Carnaval, no Brasil, foram capacitados técnicos e equipamento próprio que lhes leva hoje a que eles não tenham grandes problemas, com muita coisa criada por eles. Vamos trabalhar nestes aspectos e seguir paulatinamente”, observou.

Aposta na classe infantil

O presidente da APROCAL reconheceu que este ano a direcção que dirige deu mais atenção à classe infantil, não apenas em número como também no que toca ao aumento de subsídios e prémios, desta vez superiores aos da classe B. No total, os três vencedores da classe infantil repartiram 18 milhões de kwanzas, ficando o primeiro com oito milhões, o segundo com seis milhões e o terceiro com quatro milhões. Para Tany Narciso, esta decisão foi tomada já no âmbito das políticas de revitalização da riqueza cultural do Carnal de Luanda.    

"Foi uma prova da devida importância a esta franja. Vejamos que muitos comandantes e bailarinos dos grupos principais, há dez anos eram viveiros. Tendo em conta esta nossa visão, apoios e subsídios aos grupos infantis, neste ano foram aumentados”, justificou. 

Preocupações manifestadas por vários círculos da sociedade luandense, no âmbito da conservação da herança dos grupos emblemáticos da matriz do  Carnaval de Luanda, Tany Narciso disse que a APROCAL tem estado a olhar com mais propriedade a questão da preservação deste património. Explicou que uma delas é a questão da auto-sustentação dos grupos, precisamente a sua estruturação, para gerarem receitas.

Quanto à transformação em instituição de utilidade pública, revelou que têm estado a trabalhar, tendo em conta as novas alterações da Lei, que prevê o funcionamento das organizações de Utilidade Pública.

"No geral, vamos olhar para os grupos e ao próprio funcionamento da associação, que deve trabalhar no sentido de potenciar os seus afiliados. Temos o Kabocomeu, o 54 e recentemente estivemos a fazer uma pesquisa sobre alguns grupos das décadas de 60, mas que vieram a desaparecer. Temos algumas ideias e projectos em execução. A partir de Março e Abril, vamos ter uma reunião com os comandantes e já temos algumas soluções que queremos partilhar”, traçou.

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