Por conta de algum ajuste da pauta aduaneira, concretamente relacionada com a taxação dos produtos de uso pessoal, nos últimos dias, a Administração Geral Tributária (AGT) esteve, como se diz na gíria, na boca do povo. A medida gerou uma onda de insatisfação e, sendo ou não apenas a única razão, foi declarada a suspensão daquela modalidade de tributação, nova na nossa realidade.
Persigo, incessante, mais um instante para privilegiar o sossego. Para a parte maior da raça humana, pondero tratar-se da necessidade que se vai evidenciando quando a tarde eiva as objectivas da vida. Rastos de águas passadas há muito direccionam o moinho para a preciosidade do tempo.
Que na Kimbi há os de boca azul (entenda-se, os que falam à-toa ou falam por falar), isto já se sabe. Que há pessoas que quando escutam uma pequena dica, de quase um minuto, ao contar, contam como se tivessem ouvido em duas ou mesmo três horas… Quer dizer, aumentam a conversa, falam o não dito, por dito.
O que muitos não sabem, é que uns tantos da Kimbi, que vivem muitos problemas, quando vão nas bandas (fora da sua paróquia, bairro, cidade, aldeia), o que ouvem de lá, vão contar, com muita lenga-lenga, no seu sítio.
É o que fazem o Kukulu Kukulu e o Nistempo e Nyzua. Na semana do fim-de-semana prolongado, por força da festa mais popular, o carnaval, ambos viajaram, via marítima para a Sanzala dos Parentes Mais Pobres, onde assistiram à celebração do casamento tradicional da filha da Mãe Joana com o Mano das Garotas, que foi antecedido do bate-porta (a permissão do noivo e seus familiares directos à casa dos familiares da noiva), o alembamento e as respectivas multas, porque o rapaz, segundo a família da rapariga, rompeu o gradeamento da janela e fez o que fez e a miúda ficou grávida.
Os dois avilos de dedo e unha, ninguém sabe o que aconteceu com eles, se nganzaram (beberam) caçungueno (kaporroto) ou visitaram o chico dya chico (cigarro da mata) no Beco das Sete Curvas, na sexta-feira passada, por volta das oito da noite foram dar ao tambi (óbito) numa das ruas da Kimbi, onde estavam alguns pais grandes do nguvulu (governo) e outros muadiês (pessoas) de muito parlapié.
Assim que chegaram, o Kukulu Kukulu começou a dizer que os povos da Sanzala dos Parentes Mais Pobres estão aborrecidos com os muadiês da Kimbi, porque estão sempre a ir lá, e querem já fixar residência, com dicas de estarem à procura de melhores condições de vida.
O Nistempo e Nizua, que é igualito ao Wassaluka em falar coisas que não ouviu, ou aumenta conversa no que ouviu, disse aos presentes que ele e o Kukulu Kukulu escutaram bem o relato dos acontecimentos vividos naquele dia, na Sanzala dos Parentes Mais Pobres.
O Nistempo e Nizua disse que a bem conhecida e famosa Mãe Joana, que é quem mais manda boca, que nem sequer respeita as entidades, e quando está falar, falar é falar, já sabe que na Kimbi tudo está mal, mal.
Como o tambi é de uma irmã da Igreja da Mãe Joana, ela fez-se presente no local da tristeza. O Kukulu Kukulu e o Nistempo e Nizua não deram conta da presença dela. Foram buabuatando o que ouviram e o que não ouviram na Sanzala dos Parentes Mais Pobres.
A Mãe Joana saiu do quintal do tambi e foi à sala onde estavam o Kukulu Kukulu e o Nistempo e Nizua a relatar os factos, e surpreendendo-os, disse: "Na primeira pessoa, vou voltar a dizer o que disse na Sanzala dos Parentes Mais Pobres, para que as minhas palavras não sejam deturpadas”.
E começou por dizer o seguinte: "Nesse mês das mulheres, Março, digo que muitos de vocês, governantes, deputados, gestores de empresas públicas, pessoas ligadas a sociedade civil, sindicalistas, quando não conseguem resolver os problemas básicos do pacato cidadão, agarram-se à frase ‘aqui não é na casa da Mãe Joana’, como se a Mãe Joana fosse culpada do incumprimento daquilo que não conseguem dar solução”.
E acrescentou: "Digo isso ao soba da Sanzala dos Parentes Mais Pobres, que é a entidade máxima, assim como para os representantes do povo, que quando estão a discutir para o seu bem, esquecem-se da Mãe Joana e das outras mulheres, dos maridos destas, dos filhos destas, de todas família destas, mas quando estão numa discussão de tira-teimas, atiram-se dizendo uns aos outros que ‘aqui não é Casa da Mãe Joana’, como se a Mãe Joana fosse a mentora da desgraça da má gestão social”.
"Pelo menos”, disse, "na Casa da Mãe Joana há princípio, amor, dignidade e a solidariedade com o próximo mora lá. Vive lá! O que, infelizmente, pelo que oiço, já não acontece na Kimbi, onde os preços dos produtos básicos sobem dia após dia, sem ninguém dar uma explicação ao povo, que merece muito respeito, que aqui não encontram, mas podem encontrar na Sanzala dos Parentes Mais Pobres”.
É a verdade verdadeira que a Mãe Joana da Sanzala dos Parentes Mais Pobres disse!
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